ENTENDA COMO FOI O GOLPE DA REVOLUÇÃO DE 1930.

*Rodrigo Gutenberg

No dia 1º março de 1930, ocorreram no Brasil eleições para a escolha do novo presidente. De um lado a chapa do PRP – Partido Republicano Paulista- tendo como candidato o dr. Júlio Prestes, do outro, a Aliança Liberal, tendo como candidato o dr. Getúlio Vargas e como seu vice, o dr. João Pessoa. Respectivamente presidentes dos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraíba.
Júlio Prestes e o PRP vencem a eleição, tendo recebido 59% dos votos, e Getúlio, 40%. Em 1929, os envolvidos com a Aliança Liberal já diziam que venceriam custe o que custar. O que eles queriam dizer é que se não fosse pelo voto, seria pela armas.

Na cidade de Recife, a 26 de julho de 30 o presidente do Estado da Paraíba, João Pessoa é assassinado por João Dantas, um advogado e jornalista paraibano. No momento de sua morte, João Pessoa estava em reunião com amigos na famosa confeitaria Glória e em sua conversa, dizia ser contra a deflagração do movimento revolucionário que todos falavam e que realmente se avizinhava. Apesar do crime não ter nada haver com a disputa política do país, mas sim com uma desavença entre os dois, o assassinato foi utilizado pelos perdedores das eleições daquele ano como sendo um crime político. Incutindo nessa situação motivos mais contundentes, além da crise econômica que o país atravessava, para agir com mais firmeza contra o governo de Washington Luís, que por sua vez já estava em transição do comando do Catete à posse de Júlio Prestes, assim, os políticos da Aliança Liberal voltam a conspirar com os tenentistas e com a exclusão de Luiz Carlos Prestes, Miguel Costa é o escolhido. Nos meses que antecedem o outubro de 1930, Osvaldo Aranha, Coronel Pedro Aurélio de Góis Monteiro, Baptista Luzardo, João Neves da Fontoura, Newton Stillac Leal, Getúlio Vargas, Virgílio de Melo Franco e muitos outros que são alguns dos personagens políticos de nossa História, já se organizavam para fazer um levante que destituiria o presidente do país, quer fosse Washington, quer fosse Júlio Prestes. Os tenentes de 22, 24, e da Coluna – 1ª Divisão Revolucionária – também tinham seu novo projeto revolucionário.
Os aliancistas do sul foram buscar apoio com o também gaúcho, Luiz Carlos Prestes, que se escondia em Buenos Aires na Argentina.

Miguel Costa ao centro, com a cabeça do exótico carpete de pele de onça. Ao seu lado esquerdo tem o sr Orlando Leite Ribeiro, um brasileiro que era dono de um depósito localizado em Buenos Aires/Argentina onde moravam alguns dos exilados. Em seu lado direito há um senhor não identificado e na extrema esquerda, Luiz Carlos Prestes.

Famoso por ter comandado a Coluna Prestes que saiu do Rio Grande do Sul e marchou até o Paraná, onde se encontrou as tropas paulistas do General Miguel Costa. O que os políticos da Aliança Liberal não sabiam é que Prestes já havia se enveredado intelectualmente para o Comunismo e que, tanto prestes como Siqueira Campos e Juarez Távora, já mantinham reuniões com Astrojildo Pereira e outras lideranças do PCB – Partido Comunista Brasileiro – porém, os aliancistas não sabiam disso. Os primeiros a tomar conhecimento da conversão de Prestes são esses mencionados e outros líderes da Marcha da Coluna em 1930. O PCB abandona o contato com Prestes, quando percebe que este também mantinha conversações com a Aliança Liberal, ainda que ela apenas usava campanha demagógica com o nome de Prestes sendo como apoiado e apoiador.Em seguida Prestes lança um manifesto – datilografado pelo filho General Miguel Costa, Miguel Costa Junior, pai do escritor Yuri Abyaza Costa – que é publicado pelos jornais em maio daquele ano e faz ecoar o grito socialista de Luiz Carlos Prestes por todo o Brasil.
Sem o apoio do PCB, sem mais negócios com a Aliança Liberal, agora as divergências ideológicas com os antigos companheiros da Coluna, todos rompem com Prestes e o isolam naturalmente fora do Brasil.Prestes acusa os aliancistas de apenas querer trocar a oligarquia paulista pela oligarquia gaúcha, mantendo a tradição brasileira onde somente algumas pessoas da sociedade seriam beneficiadas e os pobres continuariam pobres. O PCB isola-se com seus problemas estruturais internos e não consegue se fortalecer, enquanto isso, os chefes da coluna Miguel Costa-Prestes, obviamente sem Prestes, se aliam aos políticos da Aliança Liberal. Luiz Carlos Prestes, solteiro, de família católica, oficial do Exército Brasileiro, reconhecidamente capacitado, está fora do comando das tratativas que levariam a Revolução de 1930. Não sem antes ficar com a quantia de 800 contos de réis que lhe fora enviado para que com esse recurso pudesse fazer a revolução. Prestes fica com o dinheiro e o repassa para a Internacional Comunista, no ano seguinte muda-se para a União Soviética, e apesar de morar na União Soviética não fora aceito ao Partido Comunista, fato que somente ocorreu em 1934.O ideal da Revolução de 1930 parece enfraquecer, quando um assassinato novamente o fortalece. Na cidade de Recife, a 26 de julho de 30 o presidente do Estado da Paraíba, João Pessoa é assassinado por João Dantas, um advogado e jornalista paraibano. No momento de sua morte, João Pessoa estava em reunião com amigos na famosa confeitaria Glória e em sua conversa, dizia ser contra a deflagração do movimento revolucionário que todos falavam e que realmente se avizinhava. Apesar do crime não ter nada haver com a disputa política do país, mas sim com uma desavença entre os dois, o assassinato foi utilizado pelos perdedores das eleições daquele ano como sendo um crime político. Incutindo nessa situação motivos mais contundentes, além da crise econômica que o país atravessava, para agir com mais firmeza contra o governo de Washington Luís, que por sua vez já estava em transição do comando do Catete à posse de Júlio Prestes, assim, os políticos da Aliança Liberal voltam a conspirar com os tenentistas e com a exclusão de Luiz Carlos Prestes, Miguel Costa é o escolhido.Durante a busca de apoio dos revolucionários de 24 e da coluna marchadora, o General Miguel Costa foi cotado para ser o comandante militar da revolução que pretendiam os próceres da Aliança Liberal do Rio Grande do Sul. Miguel Costa não angariava a simpatia de todos estes políticos, pois Miguel Costa era argentino – embora naturalizado brasileiro – era oficial da Força Pública de São Paulo e não do Exército. Além de sua religião ser o espiritismo e ser desquitado, “crimes” horrendos para os puristas da época.Prestes, era, contudo, o general já era consagrado como um grande comandante militar, tendo feito a Revolução de 1924 e assumindo o comando geral da 1 Divisão Revolucionária, tendo sempre ao seu lado de diversos militares de relevância na História Militar, como por exemplo, Juarez Távora, Luiz Carlos Prestes, Djalma Dutra, Cordeiro de Farias, João Alberto e Siqueira Campos.Porto Alegre, 3 de outubro de 1930. Após almoçar o Dr. Getúlio Vargas, então Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, jogou ping-pong com sua esposa, dona Darci Sarmanho Vargas, no interior de sua residência oficial, o novíssimo Palácio Piratini. Durante a tarde recebeu diversos políticos em seu gabinete e fez alguns despachos. Aguardava fleumaticamente, mas ansiosamente, pois, ainda que na qualidade de presidente daquele Estado, era um dos articuladores da Revolução de 1930 que seria deflagrada naquele mesmo dia às 17 horas.Getúlio Vargas tinha medo do movimento armado que tomaria conta de todo o Rio Grande. Esse medo ele mesmo deixou registrado em seu diário pessoal, bem como o modo de agir na política, sendo sempre astuto, fazia amizade com ambas as partes políticas para que no final colocasse ao lado de quem estava ganhando. No período do Estado Novo, instaurado por um novo golpe de Getúlio em 1937, seu governo tinha uma relação de movimento pendular entre os países que se enfrentaram na II Guerra. Vargas era uma figura controvertida e aplicava um hibridismo político. Hoje sabemos que ele fez isso na Revolução de 1930.Vargas não se comprometia abertamente com os movimentos militares dos comandantes da 3ª Região Militar, pelo contrário, publicamente os criticava, dando sempre publicações de fidelidade ao presidente do Brasil Washington Luiz e grande preocupação com a ordem pública, prometendo que a ordem seria mantida a qualquer preço, ou seja, totalmente contra qualquer movimento sedicioso.Também depois do almoço, enquanto Vargas se divertia com a esposa, Oswaldo Aranha participa de grande comício no centro de Porto Alegre, alguns próceres gaúchos participam e lançam o manifesto em favor da Revolução de 1930 e conclama o povo para aderir ao movimento. Às 15 horas o prédio dos Correios de Passo Fundo foi tomado por civis armados. Curiosamente, o comandante da 3ª Região Militar, General Gil de Almeida, não sabia do levante, que seria deflagrado naquele mesmo dia, 3 de outubro de 1930. Dentro do QG, o General Gil é surpreendido pelo tiroteio, eram 17 horas e 25 minutos. Guardas Civis invadem o quartel e iniciam o assalto que durou uma hora, com muitos mortos e feridos, a frágil guarda do QG perde facilmente e os homens da Guarda Civil tomam por completo a sede a 3ª Região Militar.Ainda no dia 23 de outubro, o presidente Washington Luis não acreditava que o motim iniciado no sul do Brasil o destituiria, e mesmo após tomar conhecimento do planejamento de um clompô, sendo arquitetado por pelo menos desde o dia 21 de outubro, no Forte de Copacabana, dizia estar confiante e se um golpe o afligisse lutaria até o fim. O que ele não sabia era que o complô um golpe muito bem planejado por militares de alta patente e os políticos da Aliança Liberal davam o apoio, mesclando e trazendo elementos da população civil para o golpe.Outubro foi um mês de sucessivas rebeliões no Brasil, no nordeste o golpe era liderado pelo Coronel Juarez Távora, em Minas Gerais vinha o coronel Oswaldo Cordeiro de Farias e Djalma Dutra. Do sul do Brasil estavam em marcha quatro grandes colunas militares comandadas pelo General Waldomiro de Lima, General João Francisco de Souza, General Miguel Costa e o Coronel João Alberto Lins de Barros. “Em São Paulo, desde o dia 4 de outubro muitas das fronteiras que viriam a ser reconhecidas na Revolução de 32, já estavam sendo guarnecidas pela Força Pública e o Exército, todo aquele contingente militar era comandado pelo Coronel Arnaldo de Souza Paes de Andrade, do Exército.As formações naturais propiciadas pelas gargantas do Rio Itararé face ao Estado do Paraná, são escavadas em paredões de pedra e em alguns pontos chegam a ter vinte metros de profundidade. Elas foram aproveitadas em fortificação pelo Coronel Paes de Andrade. O plano de defesa concentrava-se em duas linhas de defesa, uma próxima à cidade, na região da Gruta da Barreira ao longo do Rio Itararé, e outra seguindo pela estrada de ferro, à frente da estação de Morungava, centrada nas alturas da Fazendo Morungava, que dominam toda a região de Sengés a Itararé”, ipsislitteris, anotou o Coronel Hélio Tenório dos Santos.1Itararé estava evacuada. Toda sua população abandonara a cidade, fazendo um pequeno êxodo bem organizado. Comércios, órgãos públicos e residências, tudo fechado. O Coronel Paes de Andrade, estava sob as ordens do comandante da 2ª RM – 2ª Região Militar, sediada na Rua Conselheiro Crispiniano no centro de São Paulo, General Hasthimphilo de Moura. O comandante geral da Força Pública paulista era o coronel Joviniano Brandão.Em quase toda a linha que divide São Paulo do Paraná, desde o início de outubro, porém com as tropas concentradas entre Itararé e Sengés, porém era imensa linha que ia de Ourinhos até Cananéia. Em oito de outubro ocorre o primeiro confronto entre as forças legalistas de São Paulo e as revolucionárias vindas do Rio Grande do Sul sob o comando do General Miguel Costa, que liderava o maior contingente de tropa.O coronel Edilberto de Oliveira Mello, grande historiador militar, anotou o paradoxo entre o General Miguel Costa e o Coronel Paes de Andrade. Enquanto Miguel, oficial da Força Pública paulista tinha sobre a maior parte de seu comando homens do Exército, enquanto o Coronel Paes de Andrade, do Exército, tinha sobre a maior parte de seu comando homens da Força Pública de São Paulo.2Os combates continuaram até 25 de outubro, data em que o Presidente Washington Luis e o Presidente do Estado de São Paulo, Júlio Prestes já haviam sido destituídos do governo e com a vacância dos cargos, as tropas paulistas aderiram ao movimento revolucionário de 1930.

Capa do O Estado de S. Paulo de 25 de outubro de 1932.

No dia 24 de outubro de 1930 a Junta Governativa Provisória, composta pelos generais João de Deus Mena Barreto (General de Divisão), Augusto Tasso Fragoso (General de Divisão) e José Isaías de Noronha (Contra-Almirante), chegou ao poder, através de um golpe, sendo apoiada por muitos estados, sobretudo Minas Gerais. O golpe de duplo efeito derrubou o presidente em exercício Washington Luis e impediu que assumisse o que foi eleito com 57% dos votos na eleição de 1 de março daquele ano, Júlio Prestes de Albuquerque. 

24 de outubro de 1930
No Rio de Janeiro:
“Sr. presidente, venho mais uma vez patentear a minha lealdade, assegurando-lhe a vida, comunicar-lhe que a Junta Governativa está formada e que ela pede a Vossa Excelência sua renúncia, com o intuito de evitar mais derramamento de sangue…”
E esperou resposta.
E esta veio pronta, rápida, fulminante. Em tom seco, voz firme, o olhar fixando os generais presentes, respondeu com altivez:
A vida neste momento é o que mais desprezo! O meu sangue serviria para regar este solo para que nele surgisse um Brasil melhor, para uma completa e verdadeira regeneração nacional! Eu não renuncio!
O general Tasso Fragoso retrucou: Pois então Vossa Excelência responderá por sua vida e assumirá toda a responsabilidade pelo que houver!
O presidente Washington Luís não titubeou; e abrindo os braços, num gesto largo: Assumo inteira responsabilidade…
Pois então, nada mais me resta fazer aqui…”
Marques, Cícero – O último dia do presidente Washington Luís, 1930

No dia 3 de novembro de 1930 Getúlio Dornelles Vargas foi elevado ao poder, não como presidente, foi como “chefe” do Governo Provisório.  Após 41 anos de República o Brasil e os Estados sofreram um duro golpe, mas o desfecho também foi cruel.

Era o inicio de um tempo, periodizado na História do Brasil como Era Vargas (03/10/1.930-29/10/1.945) e fracionada em: Governo Provisório (03/10/1.930-20/07/1.934), Governo Constitucional (20/07/1.934-30/09/1.937) e Estado Novo (10/11/1.937-29/10/1.945).

Washington Luís de fraque e com o punho em seu rosto,descontente, ainda no Palácio da Guanabara, no início da noite do dia 24 de 30, dentro do Ford Bigode que o conduziria para o Forte de Copacabana. Estava deposto e preso! Acompanhava-o dentro do carro, um motorista na sua frente, ao lado deste o general Tasso Fragoso que por sua vez estava na frente do cardeal Dom Leme, por fim, ao lado de Washington Luís. No estribo do carro, ao lado da roda, vemos o capitão João Carlos Carreto. O presidente embarcaria para o exílio na europa no dia 20 de novembro. Foto de J. Vieira, fotografo da Revista da Semana.

 1 – Coronel Hélio Tenório dos Santos, em seu livro “As Batalhas de Itararé”, publicado em 2014 pela Academia de História Militar Terrestre do Brasil.
 2 – Op. Cit.
Referência: Miguel Costa – Um Herói Brasileiro (Yuri Abyaza Costa); Anotações do Professor Miguel Costa Jr.